SETOR TÊXTIL ESTÁ BEM E CONTINUA A INVESTIR
Um dos temores é a forte concorrência dos países asiáticos. Se até algum tempo atrás a China amedrontava, hoje o chão de fábrica, por questão de custos trabalhistas, se mudou para países como Vietnã, Indonésia e Paquistão, para citar três exemplos. Mas Cervone relativiza esse cenário concorrencial.
“Hoje, a ideia é produzir perto do mercado consumidor”, diz o executivo. Segundo ele, o setor têxtil brasileiro detém o know-how de toda a cadeia produtiva – da fibra ao varejo. E isso faz uma enorme diferença. A nova classe C não quer roupas padronizadas da Ásia. Quer ser incluída no mundo da moda, a um preço acessível. Segundo ele, o grande trunfo do Brasil será planejar uma estratégia de produzir bens com maior valor agregado.
“Temos de transferir atributos do nosso brand para o produto, como textura, design e cor. Isso dificilmente algum outro país conseguirá copiar”. Ele conta que certa vez, em viagem à Espanha, viu uma moça comprar um par de sandálias Havaianas a quase 200 euros. Virou-se para ela e perguntou: “Mas você vai gastar tudo isso nessa sandália?. E ela: “Claro. Com ela eu me sinto a Gisele Bundchen caminhando no calçadão de Copacabana”.
Outro caso lembrado pelo executivo é do algodão naturalmente colorido, produzido na Paraíba, que tem inegável valor de mercado, por não exigir tinturas e processamentos. Ele cita ainda que o Brasil produz 60% do algodão mundial sob o selo Better Cotton Initiative, um carimbo de qualidade. Cervone informa também que a ABIT está trabalhando com a Universidade de São Paulo (USP) para produzir fibra a partir de bagaço de cana, além de estarem em curso estudos sobre corantes naturais, como urucum.
De todo o modo, ele pondera não poder haver abertura irrestrita do mercado a países que têm práticas desleais nos quesitos trabalhista, previdenciário e ambiental. Por isso, a ABIT mantém constantes conversas com a Organização Internacional de Trabalho (OIT) e Organização Mundial do Comércio (OMC).
Apesar dessas perspectivas róseas, Cervone alerta que o próximo presidente da República precisa se comprometer com uma série de mudanças rápidas. O instituto fez uma Agenda Prioritária para o próximo governante, que contempla 12 áreas.
Na área de relações trabalhistas, a associação propõe regulamentar a terceirização, criar um contrato de formação de 24 meses, com redução de 50% dos encargos, para empresas que admitem jovens sem experiência. “A agenda trabalhista atual é muito pesada. Enquanto o mundo caminha para a livre negociação, somos engessados”, diz o dirigente.
Na seara da segurança jurídica, entre outros pontos, a proposta inclui coordenar ações que evitem modificações posteriores e criar mecanismos legais que impeçam desconsiderações de negociações coletivas na área trabalhista. “Um exportador não pode firmar um contrato de longo prazo e, em 15 dias, ser surpreendido por mudanças nas regras.” No quesito macroeconômico, a Abit defende a independência do Banco Central, um comitê gestor que fiscalize a Lei de Responsabilidade Fiscal e a desindexação da economia, inclusive do salário mínimo.
No setor de tributação e gasto público, há a recomendação de proibir o aumento das despesas correntes em relação ao PIB, acabar com a metodologia de cálculo de “imposto sobre imposto”, reduzir a zero as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para tapetes, carpetes, embalagens têxteis e glicol. Em financiamento, a ideia é estimular a expansão do mercado de capitais, facilitar o acesso das empresas ao financiamento para a inovação e estender o cartão BNDES a outros países do Mercosul.
No setor de infraestrutura, a associação sugere reduzir o custo da energia para cadeias produtivas intensivas de mão de obra entre 22 horas e 6 horas, rever as tarifas de forma geral, melhorar a atuação das agências reguladoras e oferecer internet e telefonia compatíveis com os serviços de países desenvolvidos. Em educação, a sugestão é facilitar a parceria entre empresas e universidades, ampliar os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) na qualificação profissional e facilitar parcerias entre empresas e universidades estrangeiras.
Inovação é um tema recorrente, que inclui ampliar incentivos fiscais para as iniciativas inovadoras, desenvolver um Fundo Setorial de Inovação, entre outros itens. Os temas finais referem-se a ações para o comércio exterior, preservação do meio ambiente – por meio de incentivos econômicos, à reciclagem e apoio à pesquisa -, desburocratização e apoio a micro e pequenas empresas.
O comércio exterior precisa se expandir, na visão do executivo: “É fundamental que o governo firme acordos preferenciais também com grandes blocos, como União Europeia, e países fortes como Estados Unidos e Japão”.
Sobretudo, as micro e pequenas empresas preocupam Cervone. “Temos de fortalecer o elo mais frágil da cadeia têxtil, que é a de confecções. Hoje, das 78 mil empresas do setor, 90% são muito pequenas, encaixam-se no regime do Simples. Nesse caso, o câncer é o teto de faturamento de R$ 3,6 milhões, porque as confecções às vezes evitam crescer para não terem uma taxação mais pesada”, afirma.
Um último ponto trabalhado pela ABIT é atrair grandes redes varejistas para o País. Mas cuidar para que a cadeia têxtil e de confecções brasileira seja a fornecedora e evitar a importação de itens do exterior.
Em 2013, a cadeia têxtil e de confecção produziu cerca de US$ 58,2 bilhões, o que é equivalente a 5,7% do valor total da produção da indústria brasileira de transformação, aí excluídas as atividades de extração mineral e a construção civil, que complementam o setor secundário da economia.
Os empregos gerados pela cadeia têxtil somaram 1,6 milhão de postos de trabalho em 2013, ou o equivalente a 16,4% do total de trabalhadores alocados na produção industrial nesse ano, bem demonstrando que, além da sua grande relevância econômica, esse é um segmento de forte impacto social.
No período analisado, de 2009 a 2013, o número de empresas em atividade na cadeia têxtil cresceu 8,9%, porém, sobre 2012, houve queda de 0,2%. O segmento de confecções para a linha lar foi o que mais cresceu no período de 2009 a 2013, com alta de 11,5%. Por outro lado, o segmento de meias e acessórios recuou 10,9%. Já na confecção de vestuário, o crescimento foi de 11%, enquanto as malharias apresentaram queda de 5,9%, e as tecelagens, de 4,5%.
Quanto ao pessoal ocupado na cadeia têxtil, houve queda de 3,6% no setor têxtil e de 2,7% nos confeccionados, entre 2009 e 2013. Os segmentos de confecções para a linha lar e as malharias tiveram as maiores quedas, de 12,4% e 10,6%, respectivamente. Porém, quando se analisa o número médio de empregados por empresa, no período de 2009 a 2013, houve um declínio, tanto no setor têxtil quanto no de confeccionados. Isso significa, entre outras considerações, um maior nível de automação e modernização do setor.
Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Algodão – Abrapa